sábado, 3 de setembro de 2016

Décima: A ceara que tens na horta…

(Mote)

-Dá-me um raminho de salsa.
Diz uma comadre à outra.
-Dou; se não for falsa,
a ceara que tens na horta…

Será de propósito, ou insana?
Mas ouve bem o que te digo.
É alarido em castigo,
propaganda  na redoma!
Em frenesim origina
 uma densidade fria!
Será; horto ou vanglória?
Talvez nódoa que persiste!
Sempre que a voz insiste:
- Dá-me um raminho de salsa.

Mas a salsa é sempre verde!
E o verde é cor da esperança.
 Cúmplice da perseverança,
 que a memoria não perde…
Lá porque a ocasião concede:
O estender da mão alheia…
A lua nem sempre é cheia
quando surge aos nossos pés.
-Há muito mais que marés…
Diz uma comadre à outra.

 Há sempre quem se aproveita;
Com intuito enviesado!
Mas fica mal se é tirado
ao suor que sempre enjeita…
No tanto que se enfeita;
ou nos louros sem barbela…
Lamento por quem implora;
em alarido de vão de escada:
-Não me quer dar uma ajuda?
- Dou; se não for falsa…

Se não for oca a sementeira.
Do que há muito que assim é!
Dedico algum tempo ao banzé
em versos sem grande eira.
Podes crer; não é poeira,
o esforço de outra figura.
Muito menos é fissura
naquele palco distante…
Só porque tu achas brilhante:
A ceara que tens na horta…

  

terça-feira, 17 de março de 2015

Ao Banho...

Então não querem lá ver
Nem queria acreditar
Um banho deve tomar
Ao invés de estar a moer

Para que fale ao jornal
O melhor é estar lavado
Foi assim o arraial
Dedo em riste irritado

Tudo de boca aberta
Com tamanha atitude
Mas foi assim o alerta
Tome banho, não se grude.

Cheira mal, sim senhor
Tem mesmo que se lavar
Tudo pasmo em redor
E o doutor a desancar

No reino da fantasia
Anda tudo em zaragata
Eu cá por mim exigia
Banhoca à tecnocrata

Não sabem o que isso é
Eu passo a explicar
Recordam aquele Zé
O das pulgas a saltitar

Logo lavou o recinto
O mando de amigo leal
Parece o caso sucinto
Só banho levanta o astral.

poetamaldito. Pseudónimo de Antonia Ruivo.



terça-feira, 25 de novembro de 2014

Ao ajeitar a gravata… Décimas

(Mote)
Um lamento soou na terra
Num dia de tormenta,
´´Não são todos iguais`´ ele berra,
Ao ajeitar a gravata.

(I)
Antes disso era ver
O sururu na justiça
Vistos Gold são cobiça
Desconjurada no ser.
As mãos na massa meter
É coisa que não admira
Gente fina está na mira
Daquilo que não lhe pertence.
Pensando que assim convence
Um lamento soou na terra…

(II)
Ao sentir que nem tudo vira
O povo fica dormente…
Como pode lá defende
O Sócrates e delira.
Será verdade ou mentira
Atira em contramão.
Mais merda no safanão
Da justiça ao informar,
Que o engenheiro ia caçar
Num dia de tormenta…

(III)
O circo está montado
Quem está contra ou a favor…
No país frio clamor
E o Coelho apalermado
Saiu da cova atolado
No que se estava a passar.
Depois de muito pensar
Afinou o vozeirão
E no meio da multidão
´´Não são todos iguais`´ ele berra…

(IV)
Nisso lhe dou razão
Todos iguais, não senhor.
Mas oh senhor doutor
Vai no adro a procissão,
Os desiguais já morreram
Ou então estão afastados,
Sentem-se agoniados
Com este país em trapos.
Deixe lá os artefactos
Ao ajeitar a gravata…






terça-feira, 16 de setembro de 2014

Logo ali… Décimas.

Numa nuvem passageira
Chegou ali o sorriso
Tal como a vez primeira
Muita parra e pouco siso.

Com o que ontem me cruzei
Vejam bem a confusão
Outros tempos, longe vão
Alguns sonhos que guardei.
Nem tudo o que luze é grei
Muito menos agonia
Pode até ser fobia
Ou então dor de barriga.
Assomou-se uma cantiga
Numa nuvem passageira.

Logo ali eu me lembrei
De pedir para cantar
Uma trova de embalar
Noite dentro, mas calei.
Apalermada fiquei
Com a estranha aparição
Dia claro o coração
Do peito quis saltar
Foi um salto até rimar.
Chegou ali o sorriso…

No seu passar emproado
Um tremor deixou escapar
Crua ânsia o enganar
De um olhar enevoado
Ai jesus mas que estouvado
É este estranho rimar.
Maria toca a calar
Não teças sem ter agulhas
Repara no céu as faúlhas
Tal como na vez primeira…

Estranha noite de luar
A catar assombrações
Corujas e alguns pavões
Estranhas estórias de encantar.
Do que eu me fui lembrar
Por entre o sol encoberto
Talvez por estar tão perto
A ladainha teimou
Mas logo ali se assomou
Muita parra e pouco siso…




Por vezes...

O roer e o morder andam paredes meias
O olvido e o sentido, assim como o rugido
São parentes na fonética, tal como sangue nas veias,
 Ninhos de abelhas colmeias se assemelham em estalido.
Por vezes perde o sentido uma melodia airosa
Fica pedante caprichosa, ou então a confusão
Que empurra na ladeira teia inútil e viscosa.
Escorrega, trambolhão!



terça-feira, 1 de abril de 2014

Azia no Luso lait…


Novamente do avesso
No reino da fantasia
Ai jesus o que padeço
Atolada na azia

É assim sempre que entro
 Bota acima e bota abaixo
Há quem ande cabisbaixo
Nos corredores do convento
E então em dias de vento
É um ai que lhe acuda
O melhor é ficar muda
Ou de morta me fazer
Então não querem lá ver
Novamente do avesso

Ele são erros e erros
Numa escrita desalinhada
Ó ( Supremo) quando trava?
Já estou pelos cabelos
Nos poemas era vê-los
A nadar em aselhice
Mas que coisa, que chatice
Com o que está a acontecer
Há poetas a ferver
No reino da fantasia


Eu também, não sou de modas
 Muito menos de compadrio
Anda tudo em redopio
Com a coisa das estatísticas
Até as quadras são tisicas
Outras de cara deslavada
Há ainda a tresloucada
Que no sexo é rainha
De mente escura e fuinha
Ai jesus o que padeço

Com a menina alvoraçada
E os piropos empedernidos
Ele são erros e gemidos
Que tristeza desvairada
Pela gula afiambrada
No elogio mentiroso
Só me Lembra o cão ao osso
O que agora aqui se passa
Reina  a escrita sem graça
Atolada na azia.